Guerra das Estrelas

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O vinho espumante se tornou um assunto efervescente por aqui. Há poucos dias, Steven Spurrier esteve no Brasil para comandar a degustação comentada do Panorama dos Espumantes do Hemisfério Sul. E lá pelas tantas disse que quem produz espumantes como os brasileiros, não precisa de champanhe. Ainda que qualquer pessoa deva ser prudente em suas opiniões, está claro que o elogio rasgado de Spurrier para nossos espumantes não deve ser levado ao pé da letra. Espumantes, ou estrelas engarrafadas, são feitos para celebrar a vida. E a guerra que se instalou não fez sentido.

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A declaração de Spurrier gerou celeuma. Alguns colocaram em dúvida sua reputação por causa dela  (Veja quem é o crítico no final desse texto). Mas, no fim das contas, acho que ele está certo: qualquer um pode ser feliz bebendo os ótimos espumantes brasileiros. Ainda que champanhe seja especial (mas nem todas tanto assim), é muito caro. Ainda mais no Brasil. E, para confirmar o que Spurrier disse, publico abaixo uma rápida entrevista que fiz com o crítico português Rui Falcão, que vem sempre ao Brasil, a convite da Vinhos de Portugal, para dar palestras sobre os vinhos da Terrinha, conhecedor profundo que é do assunto. Falcão também viajou muito pelo Sul do país, onde encontrou vinhedos quase que desconhecidos da grande maioria. E foi através dele, Falcão, que tomei conhecimento de uma vinícola que produz um dos melhores espumantes brasileiros, Estrelas do Brasil, e que não estava no evento comandado por Spurrier. Pois deveria. Assim como os de Adolfo Lona.

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Como tem sido sua experiência no Brasil?
É muito gratificante. Queremos ensinar sobre o vinho português, que faz vinhos completamente diferentes do resto  do mundo. E o resultado tem sido bom, refletindo-se nas vendas.

Nesse tempo, teve oportunidade de conhecer melhor as vinícolas brasileiras?
Sim, claro, quem gosta de vinhos procura conhecer outras regiões e seus vinhos. Durante muito tempo tem-se falado dos vinhos brasileiros. O país faz bons brancos e espumantes francamente bons. Tintos, menos. O Brasil é um  país com condições de fazer espumantes muito bons.

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Um deles poderia ser Estrelas do Brasil, que conheci por meio de uma matéria que escreveu para um jornal de Portugal? Até visitei a vinícola.
Com certeza. Conheci a Estrelas do Brasil, do Irineo Dal'Agnol e do Alejandro Cardozo. Quando degustei o espumante, vi que era completamente diferente de tudo o que já tinha bebido! O curioso é que, de início, não gostei. Mas com ele na taça, fui gostando cada vez mais. Parece que ele tem alguns defeitos, como se tivesse muita coisa  errada no seu processo. Mas a soma desses erros deu um espumante muito bom. Estranho, não? Por isso, fiz questão de conhecê-los quando estive na Serra Gaúcha, junto com o Nuno Pires. São pessoas de trato muito fácil e começamos uma relação de amizade.

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Que outras vinícolas destacaria entre as que fazem bons espumantes?
Outro que conheci, e que considero entre os grandes do mundo, é o Adolfo Lona, sobretudo o seu champenoise, o Orus. Há outros grandes também, como a Valduga, a Miolo, a Cave Geisse e o (Luiz Zanini) que fazem espumantes a um custo benefício muito bom.

É verdade que o espumante do Adolfo Lona já lhe trouxe problemas?
Não exatamente um problema. Mas há pouco tempo, um jornal em Portugal me pediu para citar os cinco vinhos que mais havia gostado em 2013. Citei três de Portugal, um da Austrália e o espumante Orus, do Adolfo Lona.  Teve gente que me ligou e falou "cara, cê tá louco?" A todos, eu respondia: "Provem!". Os que provaram reconheceram que eu estava certo.

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O que deveria mudar em relação à produção de espumantes no  Brasil?
Um é o excesso de  açúcar em alguns vinhos. O que é estranho também é a insistência no método charmat. O charmat é mais barato e mais rápido. Mas o produto final é sempre igual, quase um  refrigerante.

PS: Steven  Spurrier é editor da revista Decanter. Em 1976, ajudou a quebrar os paradigmas existentes sobre os vinhos do velho e do novo mundos. O famoso Julgamento de Paris colocou frente a frente, em degustação às cegas, grandes ícones da França e novatos californianos. Deu Califórnia na cabeça. A partir disso, o mundo do vinho, especialmente no Novo Mundo, ganhou um impulso e, graças a ele, esses vinhos, inclusive os brasileiros, ganharam em respeitabilidade.

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