Estrelas do Brasil – A Alquimia do Espumante

Diversidade e ousadia, assim resumo o trabalho dos enólogos Irineo Dall’ Agnol e Alejandro Alberto Cardozo Rapetti, proprietários da vinícola Estrelas do Brasil, como alquimistas na busca de espumantes que fogem aos padrões mundiais de frescor, corpo leve, aromas cítricos e acidez mais elevada.

De pequena produção, com uvas procedentes de vinhedos próprios da cidade de Nova Prata – RS e vinificação em parceria com outra vinícola em Caxias do Sul, a Estrelas do Brasil não possui um local específico de visitação, sendo a comercialização de seus produtos realzada pelo site (www.estrelasdobrasil.com.br) e na residência de Irineo, nos finais de semana, aonde recebe turistas e enófilos.

Para os que estão distantes, o site é uma opção para fazer seus pedidos, porém, quem tiver a chance de visitar e comprar os produtos diretamente na casa de Irineo, conhecerá uma pessoa simples e com muito prazer em receber, e terá o privilégio de saborear vinhos e espumantes desfrutando de uma das mais belas vistas que conheci em minha vida.

Irineo mora no topo do Vale Aurora, contíguo ao Vale dos Vinhedos, na cidade de Bento Gonçalves – RS, no distrito de Faria Lemos, de onde se pode contemplar toda a beleza da região do quintal de sua casa ou do mirante que ele construiu para que os visitantes pudessem aproveitar o momento.
Sempre que estou faço fotos e envio para os amigos de todo o Brasil, e as que apresento aqui foram feitas quando levei meus parentes de Minas Gerais para conhecer Irineo. Percebam as mudanças constantes no cenário.

OS VINHOS E ESPUMANTES ESTRELAS DO BRASIL

Um rápido passeio pelo blog, em VINHO e VOCÊ E O VINHO, é  suficiente para se verificar que os vinhos e espumantes da Estrelas do Brasil fazem parte de meus momentos de degustação e de enófilos pelo Brasil. Os “enólogos alquimistas” Irineo e Alejandro buscam nos surpreender com vinhos e espumantes diferentes. Apesar da pequena produção, a diversidade de produtos impressiona, e na qualidade, sabores e aromas que conquistem enófilos à procura de algo novo.

Antes de abordarmos as maravilhosas “estrelinhas” borbulhantes, especialidade da Estrelas do Brasil (Irineo defende este lema, mas eu não acho que os vinhos ficam atrás), tratemos dos três vinhos tranquilos, os quais degusto periodicamente, o branco Fumé Blanc, e os tintos Superiore e DMD.

DMD Tinto Cabernet Sauvignon 2005

O  DMD Tinto Cabernet Sauvignon 2005 é outra inovação da Estrelas do Brasil. Produzido a partir da técnica de Dupla Maturação Direcionada, desenvolvida por Irineo Dal ‘ Agnol, que sobrematura  as uvas no próprio parreiral, este início de passificação das uvas resulta em um vinho potente, com elevada presença em boca. Dado o seu amadurecimento os taninos estão redondos, mas uma ótima acidez mantém sua vivacidade. Aromas de chocolate, café, frutas negras e secas, e o sabor marcante de um vinho complexo, equilibra a sensação de adocicado resultante das uvas passificadas. Irineo indica a aeração deste vinho por várias horas, com o que concordo, pois tive o prazer de degustar este vinho em diversas ocasiões, e a evolução com o contato com o oxigênio é incrível. Recomendo degustar este vinho com pratos fortes, temperados, ou com entradas gordurosas e até apimentadas, como um salaminho, uma copa ou um queijo curado. O seu forte corpo pode assustar quem não está acostumado com tamanha potência.

Fumé Blanc 2014

O Fumé Blanc 2014 é um ótimo começo para demonstrar o perfil inovador da Estrelas do Brasil. Eu adoro vinhos brancos, em especial os clássicos Sauvignon Blanc, que pelo seu frescor, dada a sua maior acidez e frutas cítricas em boca, coloração clara esverdeada, aromas de maracujá e abacaxi, combinam perfeitamente com a maravilhosa moqueca capixaba. Entretanto, neste exemplar com passagem por barril de carvalho, o frescor e leveza dão lugar a um vinho de corpo médio com sabor e aroma de compotas de frutas brancas maduras, nozes e baunilha, e uma coloração amarelo-ouro, alta persistência, harmonizando com pratos mais temperados e mais encorpados. Vinhos brancos também podem ser complexos!!!

SUPERIORE 2008

O SUPERIORE 2008, um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat, impressiona pela evolução, apresentando aromas que variam de frutas pretas maduras a secas, herbáceo, pimenta do reino, café e chocolate. Apesar da idade, apresenta coloração rubi escura e taninos e acidez presentes, porém macios, que eleva a qualidade final do vinho, tornando-o gastronômico e complexo. Eu adoro degustar este vinho com aves rapidamente fritas e cozidas lentamente na panela, servidas com arroz ou massa.

Os Espumantes Estrelas do Brasil

Apresentar tantos espumantes não é fácil. Por isso vamos por partes. Os de corpo leve são os secos das uvas Prosecco, Chardonnay e Riesling Itálico. Pratos e entradas leves como canapés, damascos, frutas, em uma tarde com amigos caem bem com eles. Quem sabe substituem um chá ou café da tarde!!!?

Também de corpo leve, mas evidenciando a primeira novidade com borbulhas, o Nature Negro, um espumante da variedade Merlot, extremamente seco (conforme exige a classificação Nature), possui taninos agradáveis da maceração, e borbulhas que transformam um vinho tinto em uma experiência inusitada. Gosto de degustar este espumante com massas menos temperadas e entradas leves. É importante que o degustador esteja preparado para as novas sensações que este produto oferece, para que possa entende-lo plenamente. 

E as surpresas não param. Contrariando as definições clássicas de os espumantes serem degustados jovens, a Estrelas do Brasil oferece estes vinhos com as safras 2010 e 2007, pois infelizmente, o incrível Brut 2006 esgotou-se. É importante ressaltar que a primeira grande mudança na produção para que um espumante tenha a capacidade de amadurecer é partir de um vinho base (resultante da fermentação alcoólica e antes da segunda fermentação em garrafa) de qualidade e maior corpo, ao contrário do padrão de vinho jovem e leve, com acidez mais elevada por conta das uvas colhidas antes da plena maturação.

Os Brut Champagnoise Branco e Rosé 2010 e o Brut Branco 2007 tiveram a segunda fermentação em garrafa a partir da técnica de encapsulamento de leveduras colocadas na garrafa para a segunda fermentação, o que reduz o seu contato com o líquido, resultando em uma troca mais lenta de aromas e sabores. De colorações amarela-ouro e rosado vivo, mesclam frescor e boa acidez, característica dos espumantes jovens, com aromas e sabores complexos derivados do amadurecimento, o que possibilita ao enófilo experimentar sensações olfativas e organolépticas novas. Frutos do mar, carnes finas, feijoada, e uma série de outras iguariais podem ser desfrutadas com estes espumantes, versáteis na união de complexidade e leveza.

Encerramos esta viagem pelo mundo dos espumantes com o Nature Branco e o Nature Rosé 2007, dois vinhos que se colocam como desafio aos enófilos, pois exigem capacidade de análise e harmonização para que o resultado seja perfeito. Basta imaginarmos os aromas e sabores após 60 meses (cinco anos) de contato com as leveduras na garrafa após a segunda fermentação. O frescor, acidez e leveza dão lugar à untuosidade e volume que preenchem a boca, quase licorosos, apesar de zero açúcar, sabor de frutas maduras (brancas e vermelhas), e grande persistência de fundo de boca. No olfato, nozes, baunilha, pão, defumado, frutas secas (brancas e vermelhas) e especiarias que surgirão conforme a percepção do degustador. Na foto com Fernanda Alves, Cesar e Maria Pretto, e minha mãe, dona Boneca, a degustação do Nature Branco 2007 com camarão na moranga, um prato rico em temperos e requeijão, demonstra a capacidade de harmonização com comidas complexas. Neste mesmo jantar, foi aberto outro espumante brut jovem, do qual gostamos, mas que confrontado com o prato e o Nature 2007 se mostrou incapaz de competir, deixando para ser degustado após a refeição. E o Nature Rosé 2007 é um presente a ocasiões especiais, pois sua complexidade e elegância transformam qualquer momento em um evento. É simplesmente fantástico. 

Ao chegar ao fim desta matéria, fico feliz por mostrar aos amigos que acompanham a Adega do Chamon, a versatilidade do espumante fino do Brasil, que se coloca como uma realidade de sucesso para todos os estilos e gostos, dos apreciadores menos experientes aos especialistas.  Encerro nossa visita à Estrela do Brasil com algo que tenho pensado ultimamente: antes era status desvalorizar e denegrir o vinho brasileiro em detrimento do importado; hoje demonstra incompetência e desconhecimento.
Até nosso próximo encontro!!!

Fonte: Adega do Chamon

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