Origem Histórica e Dispersão da Videira

Por Irineo Dall’Agnol


 A videira é anterior ao surgimento do homem (Santos,1983). O provável centro de origem paleontológico da videira é a Groenlândia. Lá encontram-se os fósseis mais antigos de plantas ancestrais da videira. Há 300 mil anos, durante a Era Cenozóica, no Período Terciário, surgiu a primeira espécie da videira. No final do Período Quaternário, devido à grande glaciação, esta extinguiu-se naquele local.


A partir da Groenlândia, as espécies ancestrais disseminaram-se para novas áreas e foram diferenciando-se em novas espécies. Hoje, considera-se a existência de três centros de origem da videira:


Eurásia: compreende a região do Cáucaso, entre a Armênia e a Pérsia. Daí difundiu-se pela Mesopotâmia antiga, Oriente Médio e costas do Mediterrâneo. É o centro do qual deriva a espécie mais cultivada no mundo, a Vitis Vinífera que se destaca pela qualidade de seus frutos e pela fineza dos seus vinhos. Na Grécia o início da viticultura é atestado por fósseis de bagas de uva do final da Era do Neolítico (3500-3000 a.C.), porém o uso do vinho neste local se deu muito mais tarde, cerca de 2000 a.C.


Ásia: nesta região que incluem Sibéria, China, Japão, Java e Coréia ocorrem 15 espécies de videiras, em geral pouco conhecidas e raramente utilizadas.


América: ocorrem cerca de 30 espécies de Vitis espontaneamente desde o Canadá até a América Central. Este centro é de grande importância pela sua riqueza de espécies e pela utilização das mesmas tanto para a produção de uvas e derivados, como para fornecer genes para o melhoramento genético.


A Vitis labrusca (Isabel, Concord) é a espécie mais cultivada no Rio Grande do Sul e se destaca pelo aroma “foxado” característico e pela obtenção de suco de uva de qualidade superior.


A dispersão da videira a.C. deu-se pelos etruscos, barbáros e fenícios. No período romano o interesse pela videira e sua cultura acentuou-se cada vez mais, e com isso se aperfeiçoaram as técnicas vitivinícolas. Graças ao Império Romano a vinha pode se difundir por todos os territórios conquistados, indo desde Portugal, França, Alemanha, Inglaterra até parte do norte da África.


No período medieval abateu-se uma forte crise política e socio-econômica, a qual afetou fortemente a agricultura em geral, especialmente a viticultura. Devido a grande importância que a videira e o vinho representavam para a religião cristã, onde era indispensável a presença do vinho na celebração da Santa Missa, despertou particular atenção do Clero e principalmente dos Mosteiros no cultivo da videira, tornando-os verdadeiros centros vitícolas.


No final da Idade Média, com o início das navegações, iniciou uma nova fase de expansão da viticultura. Cristóvão Colombo, em 1493 na sua viagem que resultaria no descobrimento da América trouxe bacelos de videiras às Antilhas, que mais tarde chegariam ao México e ao Perú.


Os missionários na  difusão do cristianismo levaram a videira praticamente a todos os pontos do continente americano.


No Brasil, a videira foi introduzida por Martim Afonso de Souza, em 1532, na Capitania de São Vicente (São Paulo). Em 1535 a videira foi introduzida na Bahia e Pernambuco. Em 1551, Brás Cubas produz o primeiro vinho em território brasileiro, no Planalto de Piratininga (São Paulo).


Em 1626 o jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, introduziu a videira no Rio Grande do Sul, quando da fundação da redução de São Nicolau. Uma nova introdução foi feita pelos açorianos e madeirenses em 1742. Em 1813, Manoel Macedo Brum produziu o primeiro vinho em solo Gaúcho, próximo a Rio Pardo.


Saint-Hilaire, em 1820, registrou presença de vinhedos na região de Porto Alegre. No ano de 1840 o Gaúcho José Marques Lisboa que se encontrava em Washington (E.U.A.), enviou os primeiros bacelos da cultivar Isabel ao comerciante Thomas Messiter em Rio Grande, onde estes foram plantados na Ilha dos Marinheiros e de lá a variedade se propagou em todo o Estado.


Com a chegada dos primeiros imigrantes italianos a Serra Gaúcha em 1875, trouxeram com eles bacelos de viníferas, os quais, não obtiveram sucesso no seu cultivo, devido ao ataque de doenças fúngicas. Não satisfeitos, foram até a região alemã de São Sebastião do Cai e substituíram suas Vitis vinifera pela Vitis labrusca (Isabel).


A partir de 1970, com a chegada de empresas multinacionais, houve um incremento significativo no plantio de videiras Vitis viniferas. Hoje a Serra Gaúcha é a maior região vitícola do país, com 30.373 hectares de vinhedos, sendo 80% da produção de uvas americanas (Vitis labrusca, Vitis bourquina) e híbridos, onde a Isabel é a cultivar de maior expressão. Segundo, dados da O.I.V. de 1999, a superfície mundial de vinhedos está em 7.864.000 hectares. Sendo, 68% na Europa; 20% na Ásia; 10% na América e 2% Oceânia.

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