Fenavinho Brasil 2009

Já dizia o poeta Olavo Bilac: “Ora(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido, capaz de ouvir e de entender estrelas.”  



 


Não sei se o poeta Olavo Bilac teve como inspiração a bebida que Dom Perignon por acaso descobriu, no entanto, ele foi muito feliz ao nos mostrar que é preciso sensibilidade, paciência e despreendimento para conhecer o novo. O novo como são os produtos, vinhos e espumantes da serra gaúcha.


 Uma mostra disto pode-se conferir visitando a Fenavinho 2009, em Bento Gonçalves. Palco para mais de 90 produtores exibirem seus produtos, revelando suas diferenças, mas sobretudo a qualidade do vinho brasileiro. Vinho este que, se ainda carece de identidade, de uma imagem internacional própria ou de reconhecimento no mercado interno, tem surpreendido quem busca conhecer o que nossos produtores, vitivinicultores, enólogos e apaixonados por vinho estão fazendo.


 “Estrelas do Brasil” dos enólogos Irineo Dall”Agnol e Alejandro Cardozo é uma amostra disto. Elaborando espumantes diferenciados, com propostas ousadas estão surpreendendo na Fenavinho 2009. Com uma linha que contempla Prosseco, Brut Charmat, Moscatel, Brut Riesling Itálico, Brut Rose Champenoise (100% Pinot Noir) e Brut Champenoise, mostra toda a diversidade e o potencial para espumantes desta região, que já vem sendo reconhecida mundialmente.


Aqui fica um convite para que possas não só “ouvir” mas também “beber estrelas” como disse Dom Perignon.


Estrelas do Brasil espera  vocês até 24 de fevereiro de 2009 na Fenavinho!


 Eliani Lanzarini


AMAVI – Serra Gaúcha


Associação das Mulheres Amigas do Vinho

Estrelas do Brasil: grandes espumantes com luz própria!

 

Estrelas que brilham à luz do dia…

Se você ainda não ouviu falar sobre esses espumantes, descubra agora o que você está perdendo… Apesar de eventualmente produzir vinhos tintos, o grande brilho do projeto Estrelas do Brasil está em seus refinados espumantes, sobretudo nestes dois aqui citados: o Brut e Nature 2007, ambos elaborados pelo método tradicional ou champenoise.

 

O ambiente perfeito de degustação…

Iniciada em 2005 através da parceria entre dois enólogos, um brasileiro e outro uruguaio, a Estrelas do Brasil está localizada numa área privilegiada (principalmente pela vista) da Serra Gaúcha, no distrito de Faria Lemos, não muito distante de Bento Gonçalves, focada em elaborar espumantes de alta qualidade. Seu nome é uma singela homenagem ao dito atribuído ao monge Dom Pérignon que, no ano de 1670, disse: “estou provando estrelas”, diante da prova de seu primeiro champagne.

 

Um brinde a paisagem e ao vinho…

Assim que cheguei ao magnífico anfiteatro onde iríamos degustar os espumantes Estrelas do Brasil, me senti naquele piquenique do filme Sideways (se não lembra, basta ver a capa do DVD ou o cartaz do filme). O enólogo Irineo Dall’Agnol (o brasileiro da dupla) nos recebeu num clima absolutamente perfeito para uma degustação, à sombra de duas frondosas árvores, sentados em cadeiras rústicas ou mesmo na grama, diante de um visual que palavras são incapazes de descrever…

 

Prosecco e Brut 2007

Mas vamos aos espumantes, iniciamos com um delicado mas intensamente fresco Prosecco (veja na primeira imagem), cheio de vigor e com uma mousse incrivelmente abundante. Abriu os trabalhos com louvor. Em seguida, passamos para um dos mais sublimes espumantes nacionais que já degustei: o Brut  Champenoise 2007. Ele já se destaca pelo belo visual, levemente alaranjado (veja na foto abaixo) e uma perlage bem fina. No olfato, aromas complexos de passas brancas, fermento e castanhas assadas iam se esvaindo da taça com profusão. Chegando à boca, veio a confirmação da intensa complexidade oferecida pelas leveduras encapsuladas* por 48 meses na garrafa, trazendo um sabor fresco e cremoso, cheio da vivacidade que é a essência de um grande espumante. Realmente magnífico!

 

Estrelas do Brasil Brut Champenoise 2007

Antes de continuar a degustação, seguimos para um passeio no meio de seus vinhedos, podendo observar e ouvir as explanações de Irineo sobre as técnicas de manejo necessárias para lidar com as dificuldades de cultivo da Serra Gaúcha, especialmente a alta pluviosidade. No retorno à “sala de degustação”, mais uma bela surpresa, a versão Nature do champenoise 2007, muito semelhante ao Brut, mas com ainda mais frescor, fruto de sua quase absoluta ausência de açúcar residual. Outro espumante digno de figurar entre os melhores do Brasil. Para não ter dúvidas, levei garrafas dos dois para beber em outra ocasião.

 

Estrelas do Brasil Nature Champenoise 2007

Por razões que Irineo bem explica em seu site, só ali você vai encontrar os 9 tipos (e safras) de espumantes disponíveis para venda. Recomendo que você visite a página, leia um pouco mais sobre os diferenciais de seus espumantes e, se desejar (eu recomendo), adquira algumas garrafas.

 

Fonte: Vinhos e mais Vinhos

Levedura Encapsulada

 

É uma novidade biotecnológica que foi introduzida no Brasil com exclusividade pela Estrelas do Brasil na elaboração de seus espumantes pelo método clássico. A levedura encapsulada em alginato (polissacarídeo natural extraído de algas) é utilizada para a realização da segunda fermentação em garrafa, permitindo eliminar a etapa de “remuagem” na produção de espumantes pelo processo champenoise.

Após a introdução na garrafa, as leveduras desempenham sua atividade fermentativa dentro da cápsula, onde permanecem até serem retiradas da garrafa, com o simples ato de inversão da mesma sem turvar o líquido, seguido do degorgement.

Vantagens:

 ¨      Redução da mão-de-obra, tempo e espaço da cantina devido a eliminação da etapa de remuagem.

¨      Facilidade de uso comparado com o método tradicional, eliminando o fastidioso pé de cuba.

¨      Diminui o risco de contaminação microbiológica, oxidação da cor e de perda de aromas.

¨      Resposta rápida às necessidades do mercado e planejamento eficaz das expedições.

¨      Características organolépticas idênticas à fermentação com leveduras livres.

 

Estrelas do Brasil – A Alquimia do Espumante

Diversidade e ousadia, assim resumo o trabalho dos enólogos Irineo Dall’ Agnol e Alejandro Alberto Cardozo Rapetti, proprietários da vinícola Estrelas do Brasil, como alquimistas na busca de espumantes que fogem aos padrões mundiais de frescor, corpo leve, aromas cítricos e acidez mais elevada.

De pequena produção, com uvas procedentes de vinhedos próprios da cidade de Nova Prata – RS e vinificação em parceria com outra vinícola em Caxias do Sul, a Estrelas do Brasil não possui um local específico de visitação, sendo a comercialização de seus produtos realzada pelo site (www.estrelasdobrasil.com.br) e na residência de Irineo, nos finais de semana, aonde recebe turistas e enófilos.

Para os que estão distantes, o site é uma opção para fazer seus pedidos, porém, quem tiver a chance de visitar e comprar os produtos diretamente na casa de Irineo, conhecerá uma pessoa simples e com muito prazer em receber, e terá o privilégio de saborear vinhos e espumantes desfrutando de uma das mais belas vistas que conheci em minha vida.

Irineo mora no topo do Vale Aurora, contíguo ao Vale dos Vinhedos, na cidade de Bento Gonçalves – RS, no distrito de Faria Lemos, de onde se pode contemplar toda a beleza da região do quintal de sua casa ou do mirante que ele construiu para que os visitantes pudessem aproveitar o momento.
Sempre que estou faço fotos e envio para os amigos de todo o Brasil, e as que apresento aqui foram feitas quando levei meus parentes de Minas Gerais para conhecer Irineo. Percebam as mudanças constantes no cenário.

OS VINHOS E ESPUMANTES ESTRELAS DO BRASIL

Um rápido passeio pelo blog, em VINHO e VOCÊ E O VINHO, é  suficiente para se verificar que os vinhos e espumantes da Estrelas do Brasil fazem parte de meus momentos de degustação e de enófilos pelo Brasil. Os “enólogos alquimistas” Irineo e Alejandro buscam nos surpreender com vinhos e espumantes diferentes. Apesar da pequena produção, a diversidade de produtos impressiona, e na qualidade, sabores e aromas que conquistem enófilos à procura de algo novo.

Antes de abordarmos as maravilhosas “estrelinhas” borbulhantes, especialidade da Estrelas do Brasil (Irineo defende este lema, mas eu não acho que os vinhos ficam atrás), tratemos dos três vinhos tranquilos, os quais degusto periodicamente, o branco Fumé Blanc, e os tintos Superiore e DMD.

DMD Tinto Cabernet Sauvignon 2005

O  DMD Tinto Cabernet Sauvignon 2005 é outra inovação da Estrelas do Brasil. Produzido a partir da técnica de Dupla Maturação Direcionada, desenvolvida por Irineo Dal ‘ Agnol, que sobrematura  as uvas no próprio parreiral, este início de passificação das uvas resulta em um vinho potente, com elevada presença em boca. Dado o seu amadurecimento os taninos estão redondos, mas uma ótima acidez mantém sua vivacidade. Aromas de chocolate, café, frutas negras e secas, e o sabor marcante de um vinho complexo, equilibra a sensação de adocicado resultante das uvas passificadas. Irineo indica a aeração deste vinho por várias horas, com o que concordo, pois tive o prazer de degustar este vinho em diversas ocasiões, e a evolução com o contato com o oxigênio é incrível. Recomendo degustar este vinho com pratos fortes, temperados, ou com entradas gordurosas e até apimentadas, como um salaminho, uma copa ou um queijo curado. O seu forte corpo pode assustar quem não está acostumado com tamanha potência.

Fumé Blanc 2014

O Fumé Blanc 2014 é um ótimo começo para demonstrar o perfil inovador da Estrelas do Brasil. Eu adoro vinhos brancos, em especial os clássicos Sauvignon Blanc, que pelo seu frescor, dada a sua maior acidez e frutas cítricas em boca, coloração clara esverdeada, aromas de maracujá e abacaxi, combinam perfeitamente com a maravilhosa moqueca capixaba. Entretanto, neste exemplar com passagem por barril de carvalho, o frescor e leveza dão lugar a um vinho de corpo médio com sabor e aroma de compotas de frutas brancas maduras, nozes e baunilha, e uma coloração amarelo-ouro, alta persistência, harmonizando com pratos mais temperados e mais encorpados. Vinhos brancos também podem ser complexos!!!

SUPERIORE 2008

O SUPERIORE 2008, um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat, impressiona pela evolução, apresentando aromas que variam de frutas pretas maduras a secas, herbáceo, pimenta do reino, café e chocolate. Apesar da idade, apresenta coloração rubi escura e taninos e acidez presentes, porém macios, que eleva a qualidade final do vinho, tornando-o gastronômico e complexo. Eu adoro degustar este vinho com aves rapidamente fritas e cozidas lentamente na panela, servidas com arroz ou massa.

Os Espumantes Estrelas do Brasil

Apresentar tantos espumantes não é fácil. Por isso vamos por partes. Os de corpo leve são os secos das uvas Prosecco, Chardonnay e Riesling Itálico. Pratos e entradas leves como canapés, damascos, frutas, em uma tarde com amigos caem bem com eles. Quem sabe substituem um chá ou café da tarde!!!?

Também de corpo leve, mas evidenciando a primeira novidade com borbulhas, o Nature Negro, um espumante da variedade Merlot, extremamente seco (conforme exige a classificação Nature), possui taninos agradáveis da maceração, e borbulhas que transformam um vinho tinto em uma experiência inusitada. Gosto de degustar este espumante com massas menos temperadas e entradas leves. É importante que o degustador esteja preparado para as novas sensações que este produto oferece, para que possa entende-lo plenamente. 

E as surpresas não param. Contrariando as definições clássicas de os espumantes serem degustados jovens, a Estrelas do Brasil oferece estes vinhos com as safras 2010 e 2007, pois infelizmente, o incrível Brut 2006 esgotou-se. É importante ressaltar que a primeira grande mudança na produção para que um espumante tenha a capacidade de amadurecer é partir de um vinho base (resultante da fermentação alcoólica e antes da segunda fermentação em garrafa) de qualidade e maior corpo, ao contrário do padrão de vinho jovem e leve, com acidez mais elevada por conta das uvas colhidas antes da plena maturação.

Os Brut Champagnoise Branco e Rosé 2010 e o Brut Branco 2007 tiveram a segunda fermentação em garrafa a partir da técnica de encapsulamento de leveduras colocadas na garrafa para a segunda fermentação, o que reduz o seu contato com o líquido, resultando em uma troca mais lenta de aromas e sabores. De colorações amarela-ouro e rosado vivo, mesclam frescor e boa acidez, característica dos espumantes jovens, com aromas e sabores complexos derivados do amadurecimento, o que possibilita ao enófilo experimentar sensações olfativas e organolépticas novas. Frutos do mar, carnes finas, feijoada, e uma série de outras iguariais podem ser desfrutadas com estes espumantes, versáteis na união de complexidade e leveza.

Encerramos esta viagem pelo mundo dos espumantes com o Nature Branco e o Nature Rosé 2007, dois vinhos que se colocam como desafio aos enófilos, pois exigem capacidade de análise e harmonização para que o resultado seja perfeito. Basta imaginarmos os aromas e sabores após 60 meses (cinco anos) de contato com as leveduras na garrafa após a segunda fermentação. O frescor, acidez e leveza dão lugar à untuosidade e volume que preenchem a boca, quase licorosos, apesar de zero açúcar, sabor de frutas maduras (brancas e vermelhas), e grande persistência de fundo de boca. No olfato, nozes, baunilha, pão, defumado, frutas secas (brancas e vermelhas) e especiarias que surgirão conforme a percepção do degustador. Na foto com Fernanda Alves, Cesar e Maria Pretto, e minha mãe, dona Boneca, a degustação do Nature Branco 2007 com camarão na moranga, um prato rico em temperos e requeijão, demonstra a capacidade de harmonização com comidas complexas. Neste mesmo jantar, foi aberto outro espumante brut jovem, do qual gostamos, mas que confrontado com o prato e o Nature 2007 se mostrou incapaz de competir, deixando para ser degustado após a refeição. E o Nature Rosé 2007 é um presente a ocasiões especiais, pois sua complexidade e elegância transformam qualquer momento em um evento. É simplesmente fantástico. 

Ao chegar ao fim desta matéria, fico feliz por mostrar aos amigos que acompanham a Adega do Chamon, a versatilidade do espumante fino do Brasil, que se coloca como uma realidade de sucesso para todos os estilos e gostos, dos apreciadores menos experientes aos especialistas.  Encerro nossa visita à Estrela do Brasil com algo que tenho pensado ultimamente: antes era status desvalorizar e denegrir o vinho brasileiro em detrimento do importado; hoje demonstra incompetência e desconhecimento.
Até nosso próximo encontro!!!

Fonte: Adega do Chamon

Provérbios Sobre o Vinho

 

vPara os que não gostam de vinho…que Deus lhe tire a água.

vO vinho, dinheiro e a bravura para sempre não dura.

vMulher bonita e vinho bom são os primeiros que te abandonam.

vPipa que canta é vazia.

vCada vinho faz a alegria se bebido em companhia.

vDo vinho e da mulher salva-se quem puder.

vO vinho e a mulher fazem a alegria do homem.

vO vinho e a mulher fazem o homem perder o juízo.

v  Mulher nova, vinho velho.

vFoge do mau vizinho e do excesso de vinho.

v  Mulher casada parreira vindimada.

v Na água vês o teu rosto, no vinho o coração dos outros.

v Não se come sem beber vinho, nem assinar sem ter lido.

v  Nenhuma Nação é alcoólatra onde o vinho é barato.

v    Ninguém se embebeda com o vinho de sua adega.

v    O homem faz o vinho e o vinho refaz o homem.

v    O vinho alegra o olho, limpa o dente e cura o ventre.

v    O vinho e as crianças falam a verdade.

v    O vinho faz bem ao homem, quando são as mulheres que o bebem.

v    O vinho tem de ser comido e não bebido.

v    Quando vinho desce as palavras sobem.

v    Quem não gosta de vinho não gosta de Deus.

v    Quem planta vinhas em mau lugar carrega a vindima nas costas.

v  Três coisas mudam o homem: a mulher, o estudo e o vinho.

v  A água faz bem, mas só daquela que o vinho contém.

v Alegrai-vos tropas que aí vai o vinho.

v  Antes da sopa molha-se a boca.

v  Ao teu amigo e vizinho o melhor pão e o melhor vinho.

v Cada pipa cheira o vinho que tem.

vBeba vinho e deixe a água ao moinho.

v" O vinho molha e tempera os espíritos e acalma as preocupações da mente…ele reaviva nossas alegrias e é o óleo para a chama da vida que se apaga. Se você bebe moderadamente em pequenos goles de cada vez, o vinho gotejará em seus pulmões como o mais doce orvalho. " Sócrates

 

Meu brasileiro preferido

 

Já tive diversas provas de que até a opinião dos mais entendidos em vinho é induzida por fatores como procedência, preço e indicação de pessoas influentes. Não por acaso, um incontável número de críticos sai acabrunhado de degustações às cegas por preterir grandes rótulos em nome de vinhos bem menos prestigiados. Tudo isso pra dizer que o vinho sobre o qual vou comentar, se ocultada a sua origem, causaria certo alvoroço. Às claras, a percepção sobre ele poderia não ser a mesma, por puro preconceito.

 


 

Pedindo por isenção, começo o texto sobre o brasileiro DMD Cabernet Sauvignon 2005, que carrega no rótulo o sobrenome de Irineo Dall’Agnol. Ele, gerente do laboratório de inovação enológica da Embrapa Uva e Vinho, e o enólogo uruguaio Alejando Cardozo estão à frente da reputada marca de espumantes Estrelas do Brasil. As borbulhas são sua real vocação e especialidade, e somente para safras especiais de tintos emprestam seu talento, como no caso de 2005.

 


 

No auge da maturação, os galhos que sustentam os cachos de uva são cortados, provocando uma forte desidratação dos bagos e a consequente concentração dos teores de açúcares, ácidos, sais e extratos. Esse processo se dá no próprio vinhedo e dura uma semana. O sucesso da experiência depende de sol e clima seco. Daí o nome DMD (Dupla Maturação Direcionada). No caso do Amarone, um clássico em se tratando de vinho à base de uvas passificadas, esse ressecamento acontece em ambiente fechado, controlado, e por meses. Vale ressaltar que as uvas são outras, que este DMD não passa por carvalho e que sua graduação alcóolica fica nos 13,5%, diferentemente dos Amarones italianos, que costumam partir dos 14% e têm o estágio em madeira como obrigatório. Portanto, nada de comparações injustas!

 


Para os entusiastas do vinho, o método inovador aplicado a este Cabernet Sauvignon por si só valeria a ida a Flores da Cunha, um distrito de Bento Gonçalves distante 140 km de Porto Alegre. A isso soma-se o lugar paradisíaco onde está sediado o show room de Estrelas do Brasil e a aula grátis sobre vitivinicultura, mercado e turismo dada pelo simpático Irineo.

 

Já de saída, e bastante entusiasmada com os três espumantes que havia provado, eis que Irineo menciona um produto seu que “lembra o Amarone”, disse ele, justo o meu vinho preferido. Na falta de uma garrafa resfriada, serviu a que tinha, na temperatura ambiente dos janeiros escaldantes, mesmo na Serra Gaúcha. O álcool saltou no nariz, mas não ao ponto de se sobrepor às potencialidades do vinho, motivo por que levei duas garrafas. Fui aconselhada a decantá-lo por pelo menos 10 horas, e tomar um gole a cada duas horas, para notar sua complexidade e mutações ao longo desse período.

 


 

Em casa, eu, que não sou boba, segui as instruções do enólogo. No nariz, o vinho me lembrou couro mesclado a um balsâmico sutil, sem nada de fruta. Cheirinho de italianos maduros, mal simplificando a coisa.  Uns 20 minutos depois, uma distante geleia de morango visitou minha taça.

 


 

Aromas vinham, desapareciam, e essa inconstância me deixava confusa e insegura quanto à análise que pretendia fazer.  

 


 

Mais adiante, notas delicadas e distantes de frutas secas. Não reconheci nada de Cabernet Sauvignon nele, talvez porque o processo de passificação tenha dado um novo caráter ao vinho. O DMD é persistente e devolve ao final do gole um leve amargor, como vindo de um tostado, apesar de não ter passagem por madeira. Pode?

 


 

A presença do álcool no nariz não foi embora mesmo com as 10 horas de decantação, e se intensificou no paladar com o risoto de funghi, bacon e calabresa com o qual harmonizei o DMD. Talvez por causa do sal de todos esses ingredientes juntos, somado ao do parmesão da finalização. Sal e taninos se odeiam! E confesso que, louca por pimenta que sou, talvez tenha exagerado. E aí, a boca pega fogo mesmo!

 


Resumindo, um Cabernet de corpo médio, elegante, que me lembra mais um Ripasso que um Amarone, e com uma acidez que o mantém em grande forma mesmo aos NOVE anos de idade! E por um valor de Casillero del Diablo no Pão de Açúcar!

Débora Portela . 19 de janeiro de 2016

Origem Histórica e Dispersão da Videira

Por Irineo Dall’Agnol


 A videira é anterior ao surgimento do homem (Santos,1983). O provável centro de origem paleontológico da videira é a Groenlândia. Lá encontram-se os fósseis mais antigos de plantas ancestrais da videira. Há 300 mil anos, durante a Era Cenozóica, no Período Terciário, surgiu a primeira espécie da videira. No final do Período Quaternário, devido à grande glaciação, esta extinguiu-se naquele local.


A partir da Groenlândia, as espécies ancestrais disseminaram-se para novas áreas e foram diferenciando-se em novas espécies. Hoje, considera-se a existência de três centros de origem da videira:


Eurásia: compreende a região do Cáucaso, entre a Armênia e a Pérsia. Daí difundiu-se pela Mesopotâmia antiga, Oriente Médio e costas do Mediterrâneo. É o centro do qual deriva a espécie mais cultivada no mundo, a Vitis Vinífera que se destaca pela qualidade de seus frutos e pela fineza dos seus vinhos. Na Grécia o início da viticultura é atestado por fósseis de bagas de uva do final da Era do Neolítico (3500-3000 a.C.), porém o uso do vinho neste local se deu muito mais tarde, cerca de 2000 a.C.


Ásia: nesta região que incluem Sibéria, China, Japão, Java e Coréia ocorrem 15 espécies de videiras, em geral pouco conhecidas e raramente utilizadas.


América: ocorrem cerca de 30 espécies de Vitis espontaneamente desde o Canadá até a América Central. Este centro é de grande importância pela sua riqueza de espécies e pela utilização das mesmas tanto para a produção de uvas e derivados, como para fornecer genes para o melhoramento genético.


A Vitis labrusca (Isabel, Concord) é a espécie mais cultivada no Rio Grande do Sul e se destaca pelo aroma “foxado” característico e pela obtenção de suco de uva de qualidade superior.


A dispersão da videira a.C. deu-se pelos etruscos, barbáros e fenícios. No período romano o interesse pela videira e sua cultura acentuou-se cada vez mais, e com isso se aperfeiçoaram as técnicas vitivinícolas. Graças ao Império Romano a vinha pode se difundir por todos os territórios conquistados, indo desde Portugal, França, Alemanha, Inglaterra até parte do norte da África.


No período medieval abateu-se uma forte crise política e socio-econômica, a qual afetou fortemente a agricultura em geral, especialmente a viticultura. Devido a grande importância que a videira e o vinho representavam para a religião cristã, onde era indispensável a presença do vinho na celebração da Santa Missa, despertou particular atenção do Clero e principalmente dos Mosteiros no cultivo da videira, tornando-os verdadeiros centros vitícolas.


No final da Idade Média, com o início das navegações, iniciou uma nova fase de expansão da viticultura. Cristóvão Colombo, em 1493 na sua viagem que resultaria no descobrimento da América trouxe bacelos de videiras às Antilhas, que mais tarde chegariam ao México e ao Perú.


Os missionários na  difusão do cristianismo levaram a videira praticamente a todos os pontos do continente americano.


No Brasil, a videira foi introduzida por Martim Afonso de Souza, em 1532, na Capitania de São Vicente (São Paulo). Em 1535 a videira foi introduzida na Bahia e Pernambuco. Em 1551, Brás Cubas produz o primeiro vinho em território brasileiro, no Planalto de Piratininga (São Paulo).


Em 1626 o jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, introduziu a videira no Rio Grande do Sul, quando da fundação da redução de São Nicolau. Uma nova introdução foi feita pelos açorianos e madeirenses em 1742. Em 1813, Manoel Macedo Brum produziu o primeiro vinho em solo Gaúcho, próximo a Rio Pardo.


Saint-Hilaire, em 1820, registrou presença de vinhedos na região de Porto Alegre. No ano de 1840 o Gaúcho José Marques Lisboa que se encontrava em Washington (E.U.A.), enviou os primeiros bacelos da cultivar Isabel ao comerciante Thomas Messiter em Rio Grande, onde estes foram plantados na Ilha dos Marinheiros e de lá a variedade se propagou em todo o Estado.


Com a chegada dos primeiros imigrantes italianos a Serra Gaúcha em 1875, trouxeram com eles bacelos de viníferas, os quais, não obtiveram sucesso no seu cultivo, devido ao ataque de doenças fúngicas. Não satisfeitos, foram até a região alemã de São Sebastião do Cai e substituíram suas Vitis vinifera pela Vitis labrusca (Isabel).


A partir de 1970, com a chegada de empresas multinacionais, houve um incremento significativo no plantio de videiras Vitis viniferas. Hoje a Serra Gaúcha é a maior região vitícola do país, com 30.373 hectares de vinhedos, sendo 80% da produção de uvas americanas (Vitis labrusca, Vitis bourquina) e híbridos, onde a Isabel é a cultivar de maior expressão. Segundo, dados da O.I.V. de 1999, a superfície mundial de vinhedos está em 7.864.000 hectares. Sendo, 68% na Europa; 20% na Ásia; 10% na América e 2% Oceânia.

Brasil na Taça: Harmonizando com Estrelas do Brasil

Um espumante Nature que, no nariz e na boca, lembra aqueles vinhos envelhecidos em barris e com leve toque de oxidação, tipo Jerez, alguns fortificados e brandies. Some-se a isso a austeridade dos espumantes “zero açúcar” e temos um vinho que pode ser definido como de difícil compreensão e que precisa de uma certa dose de boa vontade do bebedor.  
 
 


 

 

O Estrelas do Brasil Nature 2007 foi feito pelo método tradicional e leva Chardonnay, Pinot Noir, Riesling Itálico e Viognier. A perlage exemplarmente pequenininha se debateu loucamente na taça por mais de 10 minutos em meio ao líquido tão dourado quanto o de cerveja pilsen. No nariz ainda mel, nozes e manteiga. Na boca é um escândalo de confuso! O General teria recuado não fosse minha insistência no conceito “experiência”. Um detalhe importante é que eu gosto do Jerez Fino, ele não!

  

Mousse gorda, cremosa; acidez na medida; vinho compriiiido… Admitindo minha pouca experiência, diria que este é um espumante no mínimo especial e que seguramente recomendaria a um amigo. Mas diria a esse amigo que não se deixasse levar pelo o que está lendo e que não reclamasse por não sentir nada do que eu senti.

 

É bom mencionar que o pai da criança, Irineo Dall’Agnol, discorda do meu jeito de ver seu vinho. A percepção é pessoal, o vinho não é consensual e ele sabe disso. Muito elegantemente, o enólogo opinou que o que eu entendi por “fortificado” e “oxidado” ele leu como “casca de laranja cozida”. Explicou ainda que o vinho tem aromas terciários em profusão, que são fruto dos 60 meses que maturou sobre as leveduras.

 

 

 
 


 

 

 
 


  

Eu sabia que não seria um espumante fácil e por isso arrisquei harmonizá-lo com algo pesado para um vinho do gênero: um risoto de camarão com tudo o que dele é de direito: um poderoso e verdadeiro caldo de peixe, manteiga, parmesão e páprica picante. Finalizei com manjericão e tomatinho cereja. E não é que ficou bom! O espumante tinha a estrutura e acidez necessárias para segurar a untuosidade do prato.

 

Para deixar os leitores do BK ainda mais tentados, o Anuário Vinhos do Brasil 2013 deu ao Nature 2007 Champenoise de Estrelas do Brasil a melhor nota (91) dentre as 554 amostras de vinhos nacionais enviadas por 85 vinícolas.

 

 

Essa joiazinha custa 80 reais, e quem quiser “experienciá-la” terá de ligar para o Irineo e pagar pelo frete. Ou ir à Bento Gonçalves e buscá-la das mãos do autor, como eu fiz.

 

 

  
Débora Portela . 19 de janeiro de 2016

Sistema de condução devideiras na Serra Gaúcha vertical ou horizontal?

    Muito se tem dito, discutido e afirmado por técnicos, viticultores e cantineiros sobre qual  o melhor sistema de condução da videira  com o intuito de produzir uvas e vinho de qualidade. Discussão esta que deverá continuar por muito tempo.


    O Brasil é um país relativamente novo e seu crescimento e desenvolvimento muito se deve em função da introdução de tecnologias advindas de outros países, que são criadas e adaptadas às condições de origem. Na vitivinicultura da Serra Gaúcha não é diferente, e ainda se caracteriza por ser uma atividade que despertou interesse somente nas últimas décadas, tendo todo um futuro para desvendar. Onde, dúvidas e questionamentos são frequentes no momento de iniciar um empreendimento na área.


    A interação dos fatores clima, solo, videira e homem irão determinar e transmitir as características da uva e do vinho de uma região. Para uma melhor compreensão podemos subdividir o clima em três níveis: macroclima, mesoclima e microclima.


    Há milhões de anos atrás o solo e a topografia determinaram o macroclima da Serra Gaúcha e este não temos como alterá-lo. Já o mesoclima varia em função de variáveis como: altitude, declividade, exposição solar, ventos, evaporação distância de lagos e rios e etc. Sendo a região composta de vales e montanhas, podemos afirmar que em cada vinhedo poderá ter um ou mais tipos de mesoclima em função da sua localização na propriedade vitícola. O microclima é o clima dentro ou próximo da vegetação da videira e este é altamente afetado e ou modificado pelas decisões culturais do viticultor como: espaçamento entre plantas e linhas, escolha do sistema de condução, tipo de porta-enxerto utilizado, dos níveis de adubação e de poda seca ou verde praticados,  manejo do solo e do dossel vegetativo, controle de pragas e de doenças, enfim de todas as práticas agronômicas aplicadas antes, durante e após a instalação do vinhedo.


    Antes de qualquer ação o viticultor deverá avaliar, identificar e mapear os diferentes mesoclimas existentes na sua propriedade, o que permitirá a ele o arranjo das diferentes variedades de videiras  que melhor se adaptarão a cada situação.


    Devemos atentar sempre em buscar o equilibrio da videira com o ambiente e para isto conhecer o potencial do solo da área tornasse imprescindível. A interação do solo e o suprimento de água determina o potencial do lugar. Um potencial do solo pode ser alto, médio ou baixo. De uma maneira geral podemos classificá-lo em função da profundidade do solo que as raízes da videira podem explorar, sendo potencial alto profundidade maior que 1,0m; médio entre 1,0 a 0,5m e baixo menor que 0,5m de profundidade.


    Locais de alto potencial podemos antecipar que o vinhedo terá alto vigor. Neste caso deve-se pensar em variedades que mesmo com elevada produtividade conseguem manter uma qualidade satisfatória, optar por um sistema de condução mais elaborado para acomodar o vigor, espaçamentos mais amplos entre plantas e linhas, deixar maior carga de gemas por planta na ocasião da poda seca a fim de comprometer o vigor.


    Os locais da propriedade de alto potencial na Serra Gaúcha geralmente são áreas planas e se situam nas bases das encostas onde o teor de matéria orgânica é elevado, a disponibilidade de água é maior, recebem menos radiação solar e ocorre menor circulação de ar. Nesta situação recomenda-se cultivar variedades de videiras mais rústicas como as Vitis labruscas e sistemas de condução horizontal como o latada.


    Nas encostas das propriedades o potencial do solo geralmente é menor e estes locais drenam mais rapidamente, tem maior circulação de ar, menor teor de matéria orgânica, pouco profundos, e que na conjugação destes fatores transmitem menor vigor ao vinhedo. Nesta situação o espaçamento entre plantas e linhas pode ser menor e o sistema de condução menos complexo. Devemos priorizar estas áreas para o cultivo de Vitis viníferas, na qual as condições favorecem para que a videira expresse ao máximo seu potencial enológico.


     Identificados os diferentes  mesoclimas da propriedade o viticultor será dicisivo na  formação do microclima da videira. Todas as suas decisões agronômicas irão afetar diretamente ou indiretamente o sucesso de seu investimento. A escolha do sistema de condução deve fazer parte deste processo amenizando os efeitos negativos do macroclima da região e mesoclima do vinhedo para compor o microclima da videira.


     Afirmar que o sistema de condução A ou B é responsável pela qualidade final da uva e do vinho na Serra Gaúcha não é verdadeiro. O somatório de fatores já mencionados e a interação entre eles com a intervenção do homem irá determinar a qualidade final.


     É inegável que a introdução de tecnologias prontas de outros países em primeiro momento acelera o crescimento, contudo, devemos nos livrar de preconceitos e olhar mais para o nosso umbigo e acreditar que o brasileiro é criativo, temos nossas características e podemos adaptar  e criar produtos e tecnologias iguais ou superiores as existentes em outras regiões vitivinícolas do mundo.


 


Irineo Dall’Agnol


Lic. Ciências Agrárias


Enólogo e Vitivinicultor

Engarrafando a paisagem por Didu Russo

Anotem estes nomes: Estrelas do Brasil, Irineo Dall Agnol, Alejandro Cardozo. Eles conseguiram engarrafar a paisagem, roubando a linda frase do meu talentoso amigo Luiz Horta.

Ele está montando em sua propriedade o que acredito deveria ser um projeto estadual, um projeto eno-turístico. Terá uma pousada, ou hotel (depende de grana) e um vinho espetacular.

Irineo é da Embrapa e conseguiu a duras penas comprar esse pedaço de paraíso onde começa a construir um sonho eno-turístico. Tem diversas uvas e vende 80% para terceiros.

Com os 20% que mais gosta faz estes experimentos junto com Alejandro, que é um enólogo uruguaio que está mudando a imagem da Piagentini, que para nós sempre foi de vinhos simplérrimos. Experimente dele a linha DECIMA (Piagentini), principalmente um espumante rosé que é maravilhoso e depois me conte.

A Estrelas do Brasil é o exemplo do que gostaria que a ABE prestigiasse quando sugeri que separassem apenas uma das 16 amostras da Avaliação Anual para pequenos produtores.

As pessoas precisam conhecer as possibilidades que sempre aparecem nesses produtores e não nas vinícolas, que têm uma espada na cabeça do enólogo chamada “mercado”.

Eu confesso que não esperava ter a emoção que o Irineo me proporcionou na tarde do dia 27 de outubro de 2011, quando ao pôr-do-sol e na agradável companhia dele e de Luciana Zanetti, fiquei emocionado com a diversidade e qualidade de aromas de um espumante 2006 de Chardonnay, Viognier e Riesling Itálico, que segundo Irineo é na verdade “Pignolo” que ficou “sur lies” por 12 meses e depois evoluiu na garrafa.

Ele ficou  encorpado, dourado, cremoso e fresco, que misturava pêssegos maduros, nozes, manteiga fresca, mel, amêndoas, flores murchas, cravo, calda de doce de abóbora, casca de maçã seca e lá no fundo do retro-gosto, um incrível e delicado marzipan líquido borbulhante…

Ao fundo uma visão paradisíaca da “Sera”… que escondia, dos pouco sensíveis, um “Nula in Mondo Pax Sincera”. Essa data ficará para sempre na minha memória.

Me lembro do Álvaro Cesar Galvão me falando da grande qualidade desse espumante que estava na vitrine de uma loja de vinhos do aeroporto em POA anos atrás. Fiquei de experimentar um dia. Esqueci.

Agora, quando soube pelo meu blog que eu estaria na Serra, meu amigo Eugênio me escreveu dizendo para não perder em hipótese alguma a visita ao Irineo. Fez mais, escreveu no meu blog, escreveu no meu e-mail três vezes e escreveu para o Irineo que conseguiu com a gentileza da ABE, encaixar o encontro. Eugênio tinha toda razão.

Eram 16hs., o tempo corria, Irineo me pegou num entroncamento da estrada, já acompanhado de Luciana Zanetti que lhe visitava também e que me deixou feliz em saber que era leitora de meu blog. Eu deveria estar no Hotel às 19hs., para tomar banho e me arrumar para a grande festa da noite.

Chegamos naquele pedaço de céu e fomos recebidos pelo Negro, um simpático cão que logo me reconheceu, quase latimos juntos. Fomos então percorrer à pé os vinhedos. É  que mais gosto, quando a companhia me acrescenta. Veja o vídeo, poucos produtores fazem isso hoje e poucos falam o que ele me falou.

 

 

 

Voltamos, bebemos água fresca, provamos dois Prosecco de diferentes leveduras. Era muito vinho e pouco tempo lamentavelmente.

Perguntei ao Irineo (ele é da Embrapa), se os produtores brasileiros iriam trocar o nome dos Prosecco para “Glera” depois da DOC de Prosecco e ele me disse: “Mas Didú, os italianos nos venderam uma uva chamada Prosecco e não Glera”… hahahahaa está certo não? Que confusão isso.

Então fomos para o jardim e ele me serviu sua maravilha em uma taça gigante por recomendação do Eugênio. Adorei. Perdemos a hora pois repetimos diversas vezes, tivemos uma conversa beatnik, flutuamos no Vale completamente integrados naquele astral e quando voltamos da paisagem para nossas cadeiras já eram seis e meia! Madona mia di Sapri!!…

Irineu então foi nos serviu outra preciosidade que estava decantando há 30 horas! Ele me conseguiu uma taça ainda maior, uma Riedel Grand Cru. Taça para Barões e Condes, mas que melhora qualquer vinho. Viva o Georg Riedel!!

O vinho é feito apenas de Cabernet Sauvignon de 2005, que depois de maduro permaneceu mais quinze dias se passificando no próprio vinhedo. Ele dá um torniquete nos galhos dos cachos o que impede a passagem da seiva para as uvas e ele passifica. É o mesmo sistema do Pablo Falabrino do Viñedo de Los Vinentos em seu estupendo Ripasso de Tannat. Quem não tem grana para ter um galpão com ventilação para passificar faz assim e reza para não chover. Deu certo. Aliás deu MUITO certo.

Seu nariz sugeria um “Amarone Brasiliano” misturava um chocolate amargo, uma ameixa preta em calda e um cravo, com o terroso e a casaca de mixirica, típicos “secondo me” de um vinho bom brasileiro, que não se encheu de maquiagem para ir à festa fingindo ser o que não é.

O vinho é de 2005 e não passou por madeira. Fiquei boquiaberto. Como podeia ter aquele tabaco sem madeira?… E o tostado? Como?! Que show. Voltei a flutuar como um monge sentado em flor de lótus em meio a paisagem…

Voltei e me deparei com a angustia do tempo. Por que a festa da ABE não foi programada para as 23hs.?…

Olhamos o relógio e eram quinze para as sete. Irineo não se conteve e foi abrir uma outra garrafa do mesmo vinho, para compararmos um decantado de 30 horas, com um não decantado. Aí complicou, pois não dava para perder aquela experiência, o tempo ia passando e a gente viajando naqueles aromas comparativos, o que tinha num e o que tinha no outro, o álcool do recém aberto e o álcool do decantado, o sabor fechado do novo com a diversidade do decantado. Quando olho o relógio eram sete e dez. Saímos correndo para o Hotel na caminhonete do Irineo pois nos demos conta de que ainda não aprendemos o tele-transporte.

Que alegria reconhecer o Irineo nesta vida, com aquela paixão sem a qual não se faz bom vinho, “seconco me” claro… Grazie e Bacio Amico!!!